Representado pela professora Gisele Masson, o Sindicato dos Docentes da UEPG (SINDUEPG) integrou riquíssimo debate sobre o tema “A resistência ao desmonte das Universidades Públicas” na Jornada de Mobilização de Pós-Graduandos (as) da UEPG, nesta quarta-feira, 12. O evento, que acontece integralmente online, debate sobre a pós-graduação e a Universidade no contexto de crises.
“Para quê serve a Universidade e qual o papel dela nesse momento histórico tão problemático de crise, não só da saúde, mas humanitária? Eu deveria dizer que é a mesma coisa que perguntarmos qual é o papel da Educação. Seja ela em qual nível for é para a formação humana”, inicia Gisele. “Isso significa garantir o acesso ao que de mais desenvolvido existe na produção de conhecimento científico, filosófico e artístico. A defesa que a gente faz é de uma Universidade que de fato pense na formação humana como um direito fundamental, não apenas como um espaço de formação profissional. Isso também é importante, mas a Universidade é muito mais do que isso”, afirma Masson.
A UNIVERSIDADE TEM PAPEL FUNDAMENTAL NA FORMAÇÃO HUMANA E NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO
“Não basta uma boa formação sem uma perspectiva de uma Universidade que seja verdadeiramente popular, que dê acesso aos estudantes condições de permanência, e para que a pesquisa e o trabalho sejam feitos com a melhor qualidade possível”, discorre. “Quando a gente defende parece uma abstração defender uma Universidade socialmente referenciada. Isso significa que estamos defendendo uma Universidade que produz conhecimento para aqueles que mais precisam dela. Nesse aspecto é a classe trabalhadora, sem dúvida”, garante Masson.
“Há um projeto de governo de uma nova direita que tem enfatizado o negacionismo anticientífico e há um momento de patrulhamento ideológico do que se produz nas Universidades, que leva, por vezes, à difamação das Universidades e, hoje, nós estamos vendo o quanto ela é importante nesse momento de crise”, explica. “Veja o papel dos Hospitais Universitários, veja o papel das Universidades, formando com excelência profissionais da saúde, da educação, das mais diversas áreas”, exemplifica.
“É importante trazer dados que mostram que no Brasil temos 75% das matrículas em instituições privadas e apenas 25% nas Universidades Públicas. Sendo 15% nas federais e 10% nas estaduais do Brasil. 88,2% das instituições de ensino superior do Brasil são privadas e a maioria delas são faculdades, não produzem conhecimento científico”, enuncia.
A LÓGICA MERCANTIL: UM PROJETO DE DESMONTE DA UNIVERSIDADE PÚBLICA
“As Universidades estão sendo colocadas na mesma lógica da iniciativa privada, não muito diferente da lógica global e nacional. Uma lógica mercantil em que se pensa a Universidade empreendedora e um professor empreendedor que vá buscar recursos e parceria com a iniciativa privada”, aponta Masson.
“Quando falamos de falta de recursos e de crise, precisamos desmascarar o discurso do governo e mostrar a realidade, principalmente do nosso estado. O dado que temos é da receita corrente do estado do Paraná. O ajuste fiscal pós 2015, que foi aquela greve histórica que fomos bombardeados no Centro Cívico em Curitiba. De 2016 a 2019, apesar do discurso da necessidade do ajuste fiscal, a receita do estado cresceu 5,69%, sem contar as renúncias fiscais que anualmente estão em torno de R$ 10 bilhões e não sabemos realmente para quais empresas o estado está abrindo mão dos impostos”, diz.
“Ao mesmo tempo, de 2016 a 2019, nós tivemos uma diminuição dos recursos das Universidades estaduais do Paraná de 8,78%. Em que pese o fato de termos uma retração da graduação, nós tivemos de 2010 a 2018 um aumento de 69,63% da pós-graduação nas Universidades Públicas do Paraná, seja mestrado acadêmico, doutorado acadêmico ou mestrado profissional”, conta. “De titulados na Pós-Graduação tivemos um aumento de 123,75%, apesar dos cortes dos investimentos”, detalha. “Quando falamos de recursos, não existe vontade política de garantir investimento adequado para as Universidades Públicas, porque essa lógica mercantil é justamente da Universidade buscar parcerias privadas, buscar recursos próprios”, finaliza.
EAD: POR QUE É UM PROJETO DE MERCANTILIZAÇÃO E DESMONTE DO ENSINO SUPERIOR
“O que temos que defender nesse projeto de Universidade é a ampliação de universidades e vagas, para entender que a educação superior é um direito fundamental para formação humana, mas não existe vontade política para isso”, diz. “Quando se cria cursos a distância, também diminuem os gastos. Nesse momento específico da pandemia, o que nos preocupa mais são as condições dos estudantes”, diz. “Os dados mostram que a realidade deles não é nem de longe a que nós desejamos em termos de acesso à internet e equipamentos. Como assistir aula no celular e fazer trabalhos no celular? Eu queria entender como alguém imagina que isso é possível”, questiona. “Outra coisa que temos que problematizar é o monopólio tecnológico de plataformas que são utilizadas e vão ter acesso aos nossos dados”, diz. “Quando o sindicato problematiza a gravação das aulas está fazendo uma defesa da proteção do professor pontualmente, porque tudo foi discutido e aprovado de forma muito repentina. Vínhamos com uma proposta debatida e planejada e de repente o jogo virou. Não houve tempo de problematizar as implicações de tudo isso”, diz.
“Preocupa a qualidade dessas aulas, preocupa os recursos que estão sendo destinados a isso e deveriam estar sendo direcionados exclusivamente para resolver o atendimento das pessoas que precisam na área da saúde. São várias questões a serem problematizadas, é um debate complexo, não pode ser feito aligeiradamente”, afirma.
OS DESAFIOS PARA A LUTA DA CATEGORIA E PELOS SERVIÇOS PÚBLICOS EM GERAL
“O principal desafio, nesse momento, é construir a luta coletiva em defesa dos serviços públicos, da Universidade Pública. Como a gente pode se articular e se fortalecer enquanto coletivo para garantir as condições desejáveis para o projeto de Universidade que queremos?”, questiona. “Para isso é importante que o professor da educação superior se sinta como um sujeito da classe trabalhadora”, explica. “O engajamento, a luta e a resistência só se fazem com paralisações, mobilizações e greves. Para isso tem que ser sindicalizado, tem que estar unificado. Que a gente se articule a partir de diferentes coletivos para construir uma resistência ativa, contundente, rigorosa e necessária”, afirma. “Outro desafio importante é a Universidade se abrir para a sociedade, ser um espaço em que os movimentos sociais estejam dentro e que possam ocupar esse espaço. Assim, a sociedade pode aprender a relevância e importância dessa instituição social”, defende.
“O SINDUEPG tem sido protagonista em muitas lutas que extrapolam as lutas específicas da categoria profissional. O sindicato verdadeiramente de luta e independente não fica preso às demandas da categoria profissional, porque vê a categoria inserida no conjunto da classe trabalhadora”, defende a professora. “Em Ponta Grossa, o SINDUEPG tem sido protagonista no sentido de puxar um conjunto de ações e mobilizações com entidades locais para fazer frente aos mais diversos ataques, desde o contexto nacional, estadual e mesmo da própria UEPG”, diz Masson.
“O SINDUEPG agradece imensamente por ter sido representado brilhantemente pela professora Gisele Masson neste evento”, pontua a vice-presidente do SINDUEPG, Carina Alves da Silva Darcoleto. “Acreditamos realmente que todo o embasamento que a professora tem, aliado à sua atuação política nas nossas lutas sindicais, ofereceram argumentos e fatos relevantes para elucidarmos o plano de desmonte da Universidade pública e gratuita e organizar a resistência e a luta”, afirma a diretora.
Gisele Masson é professora associada do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPG, e integrou a diretoria do SINDUEPG de 2010 a 2012 e de 2014 a 2016.